Comemorando o NATAL e celebrando DUAS VIDAS!
Votos dos filhos, amigos e seus filhos de santo:
A Etnobotânica obteve, nos últimos anos, grande destaque devido, principalmente, ao crescente interesse pelos produtos naturais (Parente & Rosa 2001), bem como à descoberta de novos usos das plantas (Clément 1998). Porém, a evidente descaracterização das comunidades tradicionais, acompanhada da destruição de hábitats e da inserção de novos elementos culturais, põe em risco um grande acervo de conhecimentos empíricos e um patrimônio genético de valor inestimável para as futuras gerações.
Muitas plantas cultivadas têm um emprego sacro no Candomblé, pois este culto compreende, entre outras formas de oblação, a dedicação de oferendas alimentares produzidas à base de plantas domesticadas (Trindade et al. 2000). Porém, de acordo com os mesmos autores, existe um outro sistema fundamental, indispensável ao funcionamento do culto: a liturgia das folhas, que envolve o emprego de plantas colhidas em área não cultivada.
Segundo Voeks (1997), a flora do Candomblé é produto da modificação humana na paisagem sendo caracterizada, predominantemente, por espécies que não são nativas do Brasil. Com o crescimento demográfico acelerado das grandes e médias cidades e a diminuição de áreas de floresta, os terreiros ou cultivam suas plantas em seus quintais, cada vez mais reduzidos, ou buscam estas em outros locais como “casas de folhas”, feiras livres e áreas ruderais.
O acervo de espécies utilizadas em rituais afro-brasileiros sofreu forte influência ameríndia e européia, especialmente a portuguesa. Camargo (1988) afirma que à medida em que os africanos foram se fixando em novas regiões do país, desprovidos dos recursos naturais de que dispunham em suas regiões de origem, encontraram, além daquelas plantas já conhecidas, uma série de outras espécies que se incorporam aos seus próprios costumes africanos.